sexta-feira, 13 de abril de 2012

SUL DE MINAS - Passa Quatro, é cenário de gravação de Luiz Gonzaga, de pai para filho


Passa Quatro – “Atenção gente, vai rodar. Checa som. Ação!”. Essas frases, pouco ou nada usuais, foram as mais ouvidas na última semana em Passa Quatro, Sul de Minas, com pouco mais de 15 mil habitantes. Era a assistente de direção do filme Luiz Gonzaga, de pai para filho, botando ordem nas filmagens realizadas na cidade na terça e quarta-feira. O novo longa-metragem de Breno Silveira, mesmo diretor de 2 filhos de Francisco, vai contar a história do Rei do Baião e de sua relação conturbada como filho Gonzaguinha.

A população, acostumada a passar pelo Centro da cidade a pé, em bicicletas ou nos poucos coletivos, se viu de repente obrigada a desviar a rota ou esperar alguns minutos até que a passagem fosse liberada. Anotícia se espalhou rápido. Um pouco vaga nos detalhes, mas exata no foco. “Acho que é filme do Luiz Gonzaga, mas não sei o nome”, diz a estudante Rafaela Martins, de 17 anos. “Alguém falou que é filme sobre o Gonzaga, mas não sei o que exatamente vai ser filmado na cidade”, emenda a dona de casaFrancelina Maria, de 53.

Elas estão certas. E estão achando boa a movimentação. “Está tudo muito bonito. Quarta-feira, vim fazer uma caminhada de manhã e fui lá ver os rapazes se preparando. Achei tudo muito lindo”, diz Francelina. Os rapazes que ela cita são os ilustres passa-quatrenses selecionados para fazer figuração. Dezenas deles. Devidamente maquiados, vestidos com figurino de época e ganhando cachê de R$ 40 por dia.

Entre eles, o aposentado Jurandir de Oliveira, de 59, nascido em Passa Quatro, e o segurança Márcio Amaro, de 50, vindo de município vizinho, Itanhandu. Ambos ouviram a convocação no rádio e se inscreveram para figuração. Às 8h de quarta-feira estavam a postos no camarim, mas só filmaram às 18h, quando fariam parte da plateia de um show. “É divertido. A gente só não sabe quando vai sair, para poder ver”, cobra Jurandir.

A cidade parece não se incomodar em ver sua rotina alterada, com as ruas transformadas em set de filmagem. O estudante Hudson Guedes, de 18, atuou como figurante e acompanhou as filmagens como espectador durante três horas, ao lado de centenas de pessoas que chegavam, espiavam, saíam e voltavam durante as gravações. “Achei bem legal e é bacana para a cidade. Uma atração diferente”, avalia Hudson.

Rafaela Martins vai além: “Aqui em Passa Quatro todo mundo sempre diz que não tem nada e quando vem algo assim, a gente sente que a cidade está evoluindo. Por isso, mesmo se tiver que parar um pouco o trânsito, ninguém reclama”, diz. “É bom para a cidade ficar famosa. Ninguém se incomoda”, completa Francelina, que tem sobrinho trabalhando na figuração.

Desafio Depois da agitação, o set foi desmontado e as coisas voltaram ao normal na rotina do município. Mas a agenda da equipe ainda vai longe. Programado para estrear em outubro, as filmagens agora retornam para o Rio de Janeiro e ao Nordeste, onde já foram gravadas várias cenas. O sanfoneiro Chambinho do Acordeom, que faz sua estreia como ator vivendo o principal intérprete de Luiz Gonzaga (Land Vieira e Adelio Lima interpretam o músico em outras idades), já se acostumou melhor à ideia de dar vida ao personagem, mas encara com seriedade o desafio. “Desde que recebi o convite sinto que a responsabilidade de interpretar Luiz Gonzaga só aumentou. Mas o propósito é interpretar, nunca querer ser ele”, diz o artista.

Vantagem é o fato de ser conhecedor da obra. “Na hora de fazer procuro não pensar muito nele e sim na situação. Caso contrário, não consigo, porque sou muito fã”, conta o sanfoneiro. Com orçamento que já ultrapassa os R$ 10 milhões, o longa cobre um período que vai de 1920 a 1980, em que, segundo o diretor Breno Silveira, Gonzaga rodou o país. Mas as locações escolhidas foram concentradas em cidades do Nordeste, Rio de Janeiro e Passa Quatro.

“Gonzaga passou oito anos servindo o Exército em Minas Gerais. Lutou em algumas revoluções no estado e sempre saía daqui de trem. Encontramos em Passa Quatro uma Maria-Fumaça e carros de época maravilhosos, uma estação de trem linda, uma galera que colaborou com a figuração e dançou o baião. E tem ainda essas lindas montanhas de Minas ao fundo. O que mais a gente precisa? É perfeito”, justifica Breno sobre a escolha da cidade.

 “Em 2 filhos de Francisco tinha a história dos filhos contada pelo pai, “seu” Francisco. Aqui, tenho o inverso: a história do pai contada pelo Gonzaguinha”, resume Breno. O papel de Gonzaguinha também será dividido por três atores, que representam diferentes fases da vida do cantor e compositor: Alisson Santos, Jean Carlos de Tommasio e Juliano Andrade.

* A repórter viajou a convite da produção do filme.
 
Três perguntas para... 
chambinho do acordeoM
ator 
 
1-O que achou de filmar em Minas Gerais?
Para começar, adoro queijo e a comida daqui (risos). Essa região da Serra da Mantiqueira é muito especial e estou adorando. Também estive antes em São Lourenço, BH e meu professor, Chico Ceará, que toca com Alceu Valença, mora em Pouso Alegre.  
 
2-Como é a experiência de ser ator pela primeira vez e logo um protagonista?
Estou achando muito gostoso participar e ver a entrega do pessoal. A galera realmente joga no mesmo time. Também fiz uma preparação com Sérgio Penna antes de começar as filmagens e devo muito a ele. 
 
3-Pretende seguir a carreira de ator?
A princípio, minha ideia é continuar na música, mas a gente não sabe o dia de amanhã. Meu propósito é continuar tocando e levando essa música, da qual vivo, que é de Luiz Gonzaga. Vivo do forró pé de serra e pretendo dar continuidade. 



Texto de Thaís Pacheco - Estado de Minas


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